domingo, 29 de junho de 2008

Um de cinco

29 de junho de 1958. O dia amanhece chuvoso em Estocolmo, capital sueca, e está tudo pronto para a grande final da Copa do Mundo. A chuva cessa por volta das dez horas da manhã, possibilitando melhores condições para o gramado do estádio Rasunda que receberia o confronto entre os donos da casa e o Brasil ás 15:00 horas. Estava em jogo ali não apenas o título do mundial de futebol daquele ano, mas também o fim do pesadelo do vice em 1950, no Maracanã completamente lotado e calado por Ghiggia. Como dizia Nelson Rodrigues, tínhamos síndrome de vira-lata, a mesma que acompanha a Espanha - prestes a entrar em campo para a final da Euro 2008 contra os alemães - nos tempos atuais, e sondava o escrete canarinho após o fiasco contra os uruguaios. Contudo, daquela vez foi diferente e começava a ser escrita na Escandinávia a história do país mais vitorioso no futebol de todos os tempos.
As coisas não começaram bem, e perdemos o sorteio de uniformes para os suecos, que jogariam de amarelo, o que nos obrigaria a usar nossa camisa reserva com fama de azarada. Mas Paulo Machado de Carvalho soube contornar o problema dizendo aos supersticiosos atletas que não houve sorteio algum e que ele havia escolhido jogar de azul, visto que essa é a cor do manto da padroeira do Brasil Nossa Senhora de Aparecida. E assim foi, de camisa azul, com campo úmido e torcida contra que construimos nosso primeiro triunfo em Copas. Nem mesmo o primeiro gol sueco marcado por Liedholm aos três minutos de bola rolando, e que poderia desestabilizar o time , abalaram a confiança dos nossos craques, que, jogando por música e com direito a aplausos da torcida local, tiveram capacidade de virar o jogo e confirmar a consagração pelo placar de 5 a 2 - por coincidência, o mesmo placar da semi-final contra a França do artilheiro daquele mundial Fontaine. Muita comemoração, muito choro - especialmente do menino Pelé , surgindo para o mundo da bola e marcando dois na final - e a quebra de protocolo com abraços no rei Gustavo, que entregou a Jules Rimet para o capitão Bellini imortalizar o gesto que se repetiria ainda mais 4 vezes a nosso favor.
Um time desacreditado de certa forma, mas que provou seu valor e se firmou como um dos maiores conjuntos que o futebol já viu em sua história. Ainda há um debate acirrado sobre qual a melhor seleção de todos os tempos, dado que as principais concorrentes, além da Hungria de Puskas e do carrossel holandês de 74, são os mágicos escretes brasileiros de 1970 e 1982. Fica a cargo de cada um eleger a sua, mas na minha opinião - e na opinião de jornalistas que tiveram a oportunidade de acompanhar esse time - time algum será melhor que Pelé e Garrincha juntos, isso ainda sem contar os outros nove guerreiros de 1958, a melhor seleção de todos os tempos e aquela que nos fez, quiçá pela primeira vez na história, ter orgulho de ser brasileiros!
Mais uma vez a eterna gratidão a Gilmar, Castilho, Djalma e Nilton Santos, De Sordi, Oreco, Mauro, Bellini, Orlando, Zózimo, Didi (o mestre), Dino Sani, Zito, Moacir, Garrincha, Zagallo, Vavá, Pepe, Pelé, Joel, Mazzola e Dida, além do treinador Vicente Feola e do jornaista Nelson Saldanha Filho com uma cobertura impecável, que tem seu material disponível no blog Direto de 58.
Vida simples, pensamento elevado e Obrigado Brasil!

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