sábado, 5 de julho de 2008

Divisor de águas


Domingo, seis de julho de 2008. É chegada a tão esperada final masculina do GS mais charmoso e tradicional do circuito - cuja campeã no simples feminino foi a penta Venus, derrotando a irmã Serena na final e garantindo o título de duplas ao lado da mesma - e ela não poderia estar mais a altura do torneio: os dois líderes absolutos do ranking se enfrentarão em mais um jogo épico, do porte de McEnroe versus Borg ou de Sampras versus Agassi. Do mesmo modo como esses jogos se tornaram marcos do tênis, a partida entre Roger Federer e Rafael Nadal nesse domingo no All England Club promete assegurar lugar na história, e não só pelo resultado, que pode representar o hexa da lenda Federer, além da quebra do recorde de 41 vitórias consecutivas na grama pertencente a Bjorn Borg, ou o primeiro título de Slam em quadras rápidas de Nadal, que nesse caso também quebraria outra marca do sueco, último a vencer RG e Wimbledon na mesma temporada.
Mas a partida da próxima manhã representa muito mais que apenas mais um título ou mais recorde para qualquer um dos monstros do tênis atual; ela representa os possíveis rumos do ranking daqui pra frente. O Miura Nadal mostra um crescimento acima da média, com uma evolução vista em poucos jogadores ao longo do tempo: sua força, mental e física, sofreu um aumento absurdo em pouco mais de um ano, e o espanhol vive a melhor fase da carreira até aqui, com vitórias expressivas confirmando seu favoritismo no saibro além do título de Queen's há duas semanas - sua última derrota foi no Masters de Roma. O desenvolvimento no seu estilo é nítido, com um saque potente, um forehand poderoso e um vigor ímpar, mas ainda falta algo para o prodígio se consolidar entre os melhores da história: um título importante em quadra rápida, que parece estar mais perto agora. Como diria Dácio Campos, se para vencer um game contra o espanhol deve-se fazer um esforço hercúleo, imagine para derrotá-lo em uma partida de cinco sets.
Essa é a principal preocupação da lenda suíça Roger Federer, cujo retrospecto contra Nadal não é nada animador. Não podemos ignorar os números incríveis do líder do ranking, absoluto desde 2004 e com um retrospecto invejável na grama, mas pela primeira vez Roger vê uma séria ameaça ao seu posto de número 1. Mesmo mantendo a posição no ranking após o torneio - nem mesmo uma vitória do espanhol tira dele a liderança - Federer precisa da vitória amanhã para dar continuidade ao seu reinado: uma derrota para seu principal rival, no piso e no torneio preferidos pela lenda, certamente abalaria sua confiança, não muito em alta na atual temporada. A vitória de Nadal amanhã provaria sua superioridade mental sobre o freguês, dotado de uma técnica infinitamente superior à do espanhol, que poderia chegar a um nível de confiança ainda maior que o atual, o que complicaria bastante a vida "fácil" de Roger até então.
Mais uma vez a técnica pura contra a força quase pura, e que vença o melhor, mesmo o melhor já sendo Roger Federer.

Adendo:
- sensacional a entrevista de Pete Sampras concedida ao jornalista André Kfouri, disponibilizada no blog do entrevistador. Realmente, o americano é o maior de todos!

2 comentários:

RP disse...

ou você diz:

... dotado de uma técnica que me agrada infinitamente mais que a do NADAL...

ou:

...dotado, em minha opinião,...

Porque a técnica de ambos é do mesmo nível, os estilos é que são diferentes. Assim como no CM, cuidado com o amor excessivo.

Guilherme MaMada Marçal disse...

como da para perceber, sou um fã declarado de Federer, mas o comentario acima contraria a lógica, o óbvio: depois do título de ontem, Nadal se consolidou e não tem mais obrigação na carreira - ainda falta o posto de número 1, mas ele virá - agora dizer que sua técninca é similar à do suíço é um sacrilégio, basta ler a entrevista de Sampras. Força física e mental também ganha jogo, e o espanhol evolui bem seus golpes, mas o arsenal do líder é infinitamente superior. "Fazemos coisas difíceis parecerem fáceis. É um dom." Frase de Pete sobre ele e Roger. Agora fica a pergunta: já viu um jogo do Nadal parecer fácil para ele? Uma partida na qual ele terminou o jogo sem estar descabelado, ou sujo, ou exausto? Student